“Cristo Enleado à Poste”. Desvelado soneto inédito de Camões

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O poeta, professor e investigador Nuno Júdice disse esta quarta-feira à sucursal Lusa ter revelado um soneto de Luís de Camões, “Cristo Enleado à Poste”, num manuscrito datado de 1666, editado por Manuel de Faria, no século XVIII.
Nuno Júdice afirmou que o poema é atribuído a Camões e a autoria não lhe suscita dúvidas, apesar de uma verosímil edição implicar “o trabalho de especialistas”.
O manuscrito foi encontrado pelo investigador na Livraria Do dedo Hispânica, onde se encontram vários outros poetas “do barroco, que merecem ser melhor estudados”.
Nuno Júdice salientou que esta sua invenção demonstra “que há ainda muito por revelar nas bibliotecas e por estudar e dar o devido valor”, na superfície da literatura.
“É uma esperança para os investigadores”, disse o também diretor da revista Conversação Letras da Instalação Calouste Gulbenkian, referindo que “não está tudo estudado ou revelado”, profetizando que há território literário por desvendar.
Referindo-se ao poema, Júdice disse que Manuel de Faria “foi o primeiro editor a sério de Camões”, no século XVII, e não seria leste soneto que tornaria Camões um poeta maior e tão sabido.
Levante poema, segundo Nuno Júdice, “desenvolve uma teoria zero ortodoxa”, com o catolicismo vigente na quadra, já que Camões argumenta que o paixão liberta.
Segundo o investigador, neste soneto, Camões afirma que “Cristo é torturado e chicoteado, mas liberta-se pelo paixão à humanidade”.
Camões recupera a teoria do “cárcere por paixão”, que tinha sido já desenvolvida pelo poeta Diego San Pedro (1437-1498), responsável de “Cárcel de Paixão”.
Refira-se que Camões escreveu também em ibérico e, neste período, dois países ibéricos estavam unidos sob a mesma grinalda, o que facilitou a circulação de ideias. A denominada “reino dual” vigorou de 1581 até 1640.
Luís de Camões, de vida incerta, terá nascido em Lisboa, em 1524, cidade onde morreu em 1579 ou 1580, tendo recebido uma reduzida tença do Rei Sebastião pela escrita do poema heróico “Os Lusíadas”, publicado em 1572.
Camões é ainda responsável de vários poemas, uma vez que redondilhas, rimas e sonetos, e de teatro, uma vez que “Auto d’El Rei Seleuco”, “Filodemo” e “Anfitriões”. A sua trova foi cantada por Amália e José Afonso, entre outros.
O poeta encontra-se sepultado no Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa, apesar de suscitar algumas dúvidas aos académicos que seja o seu corpo que se encontra na urna de pedra.
Não é a primeira vez que Nuno Júdice ‘se encontra’ com Camões. O investigador contou à Lusa, que, há uns anos, descobriu um poema atribuído ao heróico, “Leite da Virgem”, que entregou aos cuidados da perito camoniana Fiama Hasse Pais Brandão, que, entretanto morreu em 2007.
Poeta, ensaísta e ficcionista, Nuno Júdice, 73 anos, foi, até 2015, professor na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Novidade de Lisboa.
Júdice desempenhou o incumbência de diretor da revista literária Tabacaria (1996-2009), foi comissário para a superfície da Literatura da representação portuguesa na 49.ª Feira do Livro de Frankfurt.
Desempenhou funções uma vez que mentor cultural da Embaixada de Portugal em França (1997-2004) e diretor do Instituto Camões em Paris.
Organizou a Semana Europeia da Verso, no contextura da Lisboa’94 – Capital Europeia da Cultura. Atualmente, dirige a Revista Conversação-Letras, da Instalação Calouste Gulbenkian. Literariamente, estreou-se em 1972 com o livro de trova “A Noção de Poema”.
Ao longo da curso literária, Nuno Júdice tem sido distinguido com diversos prémios, os quais o Prémio Rainha Sofia de Verso Iberoamericana, em 2013, o Prémio Pen Clube, o Prémio D. Dinis da Moradia de Mateus.
Recebeu o Grande Prémio de Verso da Associação Portuguesa de Escritores, por “Reflexão sobre Ruínas”, finalista do Prémio Europeu de Literatura.