
Gerolf Nikolay / Flickr
Com o desenvolvimento da Ciência, o cancro deixou de ser sinónimo de morte imediata há muito tempo. Mas também não é “curado”. E isso não é mau.
“É com alegria que lhe dizemos que o cancro que tinha desapareceu”.
Esta frase é dita com frequência por parte dos médicos, ou de outros especialistas, quando anunciam a alguém que o cancro deixou de ser visível.
O cancro “desapareceu”. Não foi “curado”.
É uma distinção que a revista Salon destacou nesta semana, salientando que a espécie de reforma do verbo “curar” não é um mau sinal.
Aliás, a Ciência evoluiu tanto nas últimas décadas que esta é a melhor altura para alguém ter esperança quando sabe que tem um cancro.
As prevenções são outras, os tratamentos são mais evoluídos e, assim, há muito tempo que o cancro deixou de ser sinónimo de morte imediata.
A revista pega, entre outros exemplos, no avanço que se verificou num ensaio realizado nos Estados Unidos da América, no qual todos os pacientes viram o seu cancro desaparecer.
E, neste caso, o cancro desapareceu sem cirurgias ou quimioterapias, que atormentam muita gente. No entanto, este medicamento não é sinónimo de “cura”.
Ainda recentemente Joe Biden, presidente dos EUA, anunciou a intenção do seu Executivo de “acabar com o cancro como o conhecemos”, melhorando a experiência de “viver e sobreviver” após essa doença.
A palavra “curar” vai desaparecendo – não totalmente – das notícias, das declarações, das campanhas, porque não se cura o cancro como se curam outras doenças.
O cancro é um conjunto de mais de uma centena de variações, num crescimento de células descontrolado, cada uma diferente da outra.
Há muitos tipos de cancro, que actuam sobre a pessoa de formas muito diferentes. E, por isso, uma “cura” para um cancro não é realmente uma cura porque não serve de “cura” para outro cancro.
Quando se fala em tratamentos (que não são eficazes para todos), estamos a “tratar” do doente. Não estamos a “curar” o doente. Aquele tratamento foi eficaz, resultou naquele cancro, naquela pessoa. Fez o cancro desaparecer. Mas não é uma cura.
Dificilmente – ou muito dificilmente – vai aparecer uma cura abrangente para o cancro. Cada caso terá cada vez mais possibilidades de tratamento eficaz, mas não terá a tal “cura” universal.
E, mesmo quando o cancro não desaparece (porque há tumores que não desaparecem), as pessoas habituam-se e aprendem a viver com a doença. Porque a Ciência também ajuda nessa nova realidade.
Hoje o cancro é uma doença crónica controlável. Que se “controla” ou que se “trata”. Sem o Santo Graal chamado “cura”.
ZAP //