
O Perseverance tem procurado sinais de vida na paisagem poeirenta e rochosa da Cratera Jezero em Marte desde que aterrou, no ano passado. Mas apenas avistou lixo humano na superfície do planeta vermelho.
A equipa do Perseverance partilhou uma mensagem no Twitter, onde afirmava ter visto o que parecia ser um pedaço da manta térmica utilizada para proteger o rover das temperaturas extremas durante a aterragem.
“É uma surpresa encontrar isto aqui” uma vez que a descida do robô aconteceu a cerca de 2 km – a pouco mais de uma milha de distância, escreveu a equipa. “Será que esta peça aterrou aqui depois disso, ou foi aqui soprada pelo vento?”
Este não é o único pedaço de lixo em Marte. Em abril, o helicóptero Ingenuity capturou uma imagem do lixo espacial deixado pelo Homem.
NASA / JPL-Caltech
Lixo em Marte, capturado pelo Ingenuity, a 19 de abril de 2022
“O Perseverance teve a melhor aterragem documentada em Marte da história, com câmaras a mostrar tudo, desde a inflação dos pára-quedas até à aterragem”, realça Ian Clark, um antigo engenheiro do projeto, que agora lidera a missão de transportar amostras do planeta vermelho de volta à Terra.
“Se os nossos sistemas funcionaram como pensamos que funcionaram e recolheram um conjunto de dados de informação de engenharia que possamos utilizar para o estudo das amostras de Marte, será espantoso. Se isso não aconteceu, as imagens não deixam de ser espetaculares e inspiradoras”, acrescenta Clark.
A principal missão do Perseverance é procurar sinais de vida microbiana antiga perto do seu local de aterragem na Cratera Jezero, segundo relembra o Business Insider.
O lixo espacial, no entanto, é algo que tem vindo a preocupar cada vez mais as agências espaciais. Fragmentos de missões deixadas para trás no espaço — como as botas, pás, e veículos inteiros que as missões Apollo deixaram na Lua — podem contaminar corpos planetários que deveriam estar imaculados.
À medida que a órbita da Terra fica mais cheia de satélites e de lixo espacial, deixar a Terra para a exploração espacial está a tornar-se cada vez mais perigosa.
Além disso, todo o lixo espacial que envolve a Terra — satélites que deixaram de ser usados, impulsionadores queimados, chaves de fendas, pára-quedas e outros resíduos — pode ser perigoso para a Estação Espacial Internacional (EEI).
My team has spotted something unexpected: It’s a piece of a thermal blanket that they think may have come from my descent stage, the rocket-powered jet pack that set me down on landing day back in 2021. pic.twitter.com/O4rIaEABLu
— NASA’s Perseverance Mars Rover (@NASAPersevere) June 15, 2022
Ainda assim, as restrições que protegem o espaço da poluição são escassas. A lei espacial atual não mudou muito desde o Tratado sobre o Espaço Exterior, que foi elaborado em 1967 e não é muito pormenorizado.
Mais de meio século depois, à medida que os corpos celestes como Marte se transformam em ferro-velho, as lacunas do tratado destacam-se.
Aparna Venkatesan, professora de astronomia da Universidade de São Francisco, afimrou num evento do Museu Americano de História Natural no mês passado que a consagração de proteções contra a poluição do ambiente espacial exigirá a sua definição como um património comum da civilização humana.
“Será que vemos o espaço como a nossa ascendência comum?“, questionou. “De quem é o património e como o honrar?”