Luto prolongado: combater ou “deixar andar”?

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Ben White / unsplash

Cada vez mais pessoas prolongam o seu luto durante anos. É possível, e é desejável, estabelecer um limite temporal numa emoção natural?

Luto. Momento normal, fase habitual, quando alguém próximo morre.

Mas há um distúrbio generalizado, pelo menos, nos Estados Unidos da América: o luto prolongado.

Esse transtorno foi reconhecido há três meses pelo Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais.

As pessoas incluídas nesta classificação, neste transtorno, são aquelas que continuam em luto intenso após um ano do falecimento do amigo ou familiar.

É como se a perda tivesse acontecido ontem. Essas pessoas ainda estão em choque e em descrença… Estão presas neste estado de luto incapacitante”, explicou a professora Holly Prigerson, no jornal The Guardian.

Não será desejável prolongar o luto, para a pessoa em causa. Mas será desejável (e possível), estabelecer um limite temporal numa emoção natural nos seres humanos?

É um assunto complexo e que origina “muita controvérsia há muitos anos”, admite Lucy Selman, professora associada de cuidados paliativos e de fim de vida na Universidade de Bristol.

Alguns especialistas consideram que este diagnóstico pode ser útil, outros alegam que esse “carimbo” pode prejudicar a pessoa em luto durante muitos anos.

Lucy acrescenta que a ideia que reina é que o luto é passageiro, inútil e que qualquer ser humano recupera dessa fase. Mas pode ser uma experiência “realmente transformadora, que pode mudar a pessoa. Não é verdade que a pessoa fica igual ao que estava antes do luto”, avisou.

“O luto é interessante porque tem uma dimensão psicológica, mas é algo que vai acontecer com todos nós e é mais uma questão social”, acrescenta, alertando que 10% das pessoas com luto mais prolongado e complexo pode, realmente ficar “presas”. E sentem-se incapazes de seguir a sua vida.

Nesses casos, identificar o transtorno de luto prolongado pode ser útil. As pessoas estariam mais familiarizadas com o que é o luto.

O luto era frequente, até há algumas décadas ou séculos. As pessoas morriam cedo – incluindo muitas crianças. Mas entretanto a medicina avançou, a esperança média de vida é mais longa agora, as condições de vida são bem diferentes. Mas a fragilidade emocional/psicológica é maior, hoje em dia.

A investigadora Lucy Hone apresenta essa perspectiva: o ser humano passou a não estar habituado a “lidar e viver com emoções negativas e, por isso, rapidamente passamos a patologizá-las. Mas todas essas emoções negativas no luto são uma parte absolutamente normal e natural”.

Não podemos colocar uma linha do tempo nisso. O que queremos é que algo funcione. É uma dor natural. Não esperemos que todas as emoções negativas e a descrença desapareçam rapidamente”, avisou.

Davina Rivers ficou viúva há sete anos depois. E ainda sofre imenso. Transtorno de lLuto prolongado? Não concorda: “Sinto-me bastante perturbada por me ter sido diagnosticado um problema médico que precisa ser corrigido. Porque acho que não é”.

  ZAP //

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